Decisão errada...
"Can u take me high enough?"
Consegues ?
Procurou no bolso, a sua mão trémula mal conseguia agarrar no porta-chaves, enquanto a sua visão desfocada não ajudava a distinguir a chave certa. Cambaleou um pouco, apoiando-se na porta e evitando aquela que teria sido provavelmente a queda mais afortunada da história. Deu um passo atrás e pontapeou violentamente a porta uma série de vezes, mas a porta de madeira maciça mantinha-se impassível, em tom de desafio.
Após várias tentativas francamente frustradas conseguiu abrir a porta precipitado-se cambaleante para o quarto. Sentou-se em cima da cama e deitou as mãos à cabeça, os efeitos do ácool eram só suplantados pelo seu desespero.
O telemóvel tocou, e ele conhecia aquele toque, só o tinha para uma pessoa... para ela, a última pessoa com quem queria falar naquele momento, a mesma que ele tinha visto com o seu novo pior inimigo naquela noite. A mesma que ele amava e odiava com a mesma intensidade.
Atirou o telemovel contra a parede, deixando-o completamente desfeito. Naquele momento podia ter adormecido. Devia ter adormecido. Mas não adormeceu. Em vez disso dedicou os seus pensamentos ao caos em que julgava encontrar a sua vida, sentindo-se cada vez mais miserável.
Abriu a mesinha de cabeceira e de lá retirou uma pistola. Era do pai dele, já hà algum tempo que se queria livrar dela, não apreciava aquele tipo de coisas, no entanto naquele momento ela estava lá, e ao lado uma pequena caixa metálica que o pai usava para guardar as balas. Carregou a pistola e numa espécie de movimento mecânico apontou-a à cabeça. Naquele momento parou de tremer e fechou os olhos. Apareceu-lhe imediatamente a imagem dela com ele. Não conseguia sopurtar isso. Desejou ser ele a estar na imagem, desejou que nada tivesse acontecido, mas nem por um momento desejou nunca a ter conhecido.
Esteve algum tempo com a pistola apontada à cabeça, a pensar em tudo quanto havia de mau na sua vida, e especialmente nela. Tomou uma decisão que o fez voltar a tremer, desta feita com maior intensidade. Ia suicidar-se naquela mesma noite.
Mal tinha tomado a decisão já estava arrependido. Pensou em como estava a ser egoista, pensou em todas as pessoas que gostavam e dependiam dele e pensou que também ela iria sentir falta dele. Sim, tinha a certeza, ela amava-o. Só podia estar a dramatizar. Uma noite, simplesmente uma noite, tinha-lhe corrido mal, mas ele era feliz. A vida dele não era assim tão má. Pensou em tudo isso, tarde de mais... já não tremia. A fracção de segundo em que premiu o gatilho pareceu-lhe uma eternidade. Parecia impossível que só tivesse descoberto a sua felicidade no momento em que tinha uma bala a entrar-lhe na cabeça. Esta ironia foi o seu último pensamento, e caiu no chão, morto, com um sorriso...
Nunca chegou a perceber a real magnitude da ironia de que tinha sido vítima. Nunca soube que momentos depois, a mesma pessoa que o tinha feito suicidar-se ia aparecer em casa dele a implorar-lhe que a perdoasse. Nunca teve conhecimento dos segredos guardados pelo telemóvel desfeito no chão. Nunca viveu para saber que tomou a decisão errada.
Mas não fazia qualquer diferença, ele tinha parado de tremer...
"How many times can a man turn his head and pretend that he just doesn't see ?" (Bob Dylan)
Consegues ?
Procurou no bolso, a sua mão trémula mal conseguia agarrar no porta-chaves, enquanto a sua visão desfocada não ajudava a distinguir a chave certa. Cambaleou um pouco, apoiando-se na porta e evitando aquela que teria sido provavelmente a queda mais afortunada da história. Deu um passo atrás e pontapeou violentamente a porta uma série de vezes, mas a porta de madeira maciça mantinha-se impassível, em tom de desafio.
Após várias tentativas francamente frustradas conseguiu abrir a porta precipitado-se cambaleante para o quarto. Sentou-se em cima da cama e deitou as mãos à cabeça, os efeitos do ácool eram só suplantados pelo seu desespero.
O telemóvel tocou, e ele conhecia aquele toque, só o tinha para uma pessoa... para ela, a última pessoa com quem queria falar naquele momento, a mesma que ele tinha visto com o seu novo pior inimigo naquela noite. A mesma que ele amava e odiava com a mesma intensidade.
Atirou o telemovel contra a parede, deixando-o completamente desfeito. Naquele momento podia ter adormecido. Devia ter adormecido. Mas não adormeceu. Em vez disso dedicou os seus pensamentos ao caos em que julgava encontrar a sua vida, sentindo-se cada vez mais miserável.
Abriu a mesinha de cabeceira e de lá retirou uma pistola. Era do pai dele, já hà algum tempo que se queria livrar dela, não apreciava aquele tipo de coisas, no entanto naquele momento ela estava lá, e ao lado uma pequena caixa metálica que o pai usava para guardar as balas. Carregou a pistola e numa espécie de movimento mecânico apontou-a à cabeça. Naquele momento parou de tremer e fechou os olhos. Apareceu-lhe imediatamente a imagem dela com ele. Não conseguia sopurtar isso. Desejou ser ele a estar na imagem, desejou que nada tivesse acontecido, mas nem por um momento desejou nunca a ter conhecido.
Esteve algum tempo com a pistola apontada à cabeça, a pensar em tudo quanto havia de mau na sua vida, e especialmente nela. Tomou uma decisão que o fez voltar a tremer, desta feita com maior intensidade. Ia suicidar-se naquela mesma noite.
Mal tinha tomado a decisão já estava arrependido. Pensou em como estava a ser egoista, pensou em todas as pessoas que gostavam e dependiam dele e pensou que também ela iria sentir falta dele. Sim, tinha a certeza, ela amava-o. Só podia estar a dramatizar. Uma noite, simplesmente uma noite, tinha-lhe corrido mal, mas ele era feliz. A vida dele não era assim tão má. Pensou em tudo isso, tarde de mais... já não tremia. A fracção de segundo em que premiu o gatilho pareceu-lhe uma eternidade. Parecia impossível que só tivesse descoberto a sua felicidade no momento em que tinha uma bala a entrar-lhe na cabeça. Esta ironia foi o seu último pensamento, e caiu no chão, morto, com um sorriso...
Nunca chegou a perceber a real magnitude da ironia de que tinha sido vítima. Nunca soube que momentos depois, a mesma pessoa que o tinha feito suicidar-se ia aparecer em casa dele a implorar-lhe que a perdoasse. Nunca teve conhecimento dos segredos guardados pelo telemóvel desfeito no chão. Nunca viveu para saber que tomou a decisão errada.
Mas não fazia qualquer diferença, ele tinha parado de tremer...
"How many times can a man turn his head and pretend that he just doesn't see ?" (Bob Dylan)